sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Tudo fica ali: na passarela

Por Daniel Leonardo

O místico e o sensual. O sacrifício e a felicidade ilusória que levam a nenhum lugar. Uma mistura vinda da Europa que se funde aos latino-americanos já há três séculos. São anos de histórias, ilusões e fantasias.
O sacrifício: a pessoa se sacrifica o ano todo. Pai e mãe de famílias adeptas, trabalham e depositam o salário todo num sonho: o sonho de percorrer quinhentos metros, nus, seminus, ou travestidos das mais exuberantes fantasias que se lhes dão a sensação de ser um outro ser naquele exígüo tempo que há de vir. O tempo é tão irrisório que nem sequer uma cãibra se lhes dá durante o percurso. Afinal, tem-se que estar muito bem preparado, pois o sorriso é fundamental para os flagrantes das câmeras. Sacrifica-se o físico com até oito horas de academia por dia, trabalha-se o psicológico, economiza-se para ingresso de altíssimo custo, quando não milhares e milhares de reais para os chamados VIPs (Very Important Persons ou... pessoas muito importantes).
Enquanto não chega o carnaval, freqüentam durante o ano as quadras das escolas de samba ensaiando para o dia “X”.
Particularmente, nunca gostei do carnaval. Longe de preconceito, sempre pensei em não me casar com uma mulher que saísse nua numa escola de samba, exposta aos olhos do mundo todo. As pessoas mais achegadas, os amigos, com certeza diriam: “Vi sua esposa desfilando”. Certamente, me constrangeria, porque a mim reservaria - reservo ainda – o direito de esta nudez ser vista somente por mim. Egoísmo? Não. Em absoluto. Preconceito? Não. Em absoluto.
Enquanto isso, nessa mistura do espiritual e carnal, o Brasil e os seus admiradores abrem alas para ver o pouco que conquistou durante o ano; verem os sonhos passarem e nunca mais voltar. Tudo fica ali: na passarela.
O resultado: tudo se resulta em trezentos e sessenta e cinco dias frustrados. Este ano de 2008... um dia a mais de frustração por ser bissexto.
Brasil!Joguemos fora as máscaras e fantasias, tiremos a maquiagem do corpo, tomemos muita água, recuperemo-nos, vamos repor as energias e acordar para a vida! As oportunidades de mudanças passam todo momento nas passarelas da vida. Fecharei alas e não vou deixá-las passar. Não precisa esperar a quarta-feira de cinzas chegar para uma conversão, fazer abstinências e jejuns para conscientizar que o ser humano é frágil e que a vida é passageira. Essa consciência tem-se que ter todos os dias. Vamos acordar, vamos acordar! Chega de confetes, chega de lantejoulas, chega de brilhar para o mundo, e vamos deixar que o brilho de Deus resplandeça por intermédio de nós.