sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

- Pequenas formigas é que fazem a diferença -


Por Daniel Leonardo










- Daniel! Vamos, fotografa o mato!
Foi assim que tudo começou.
De início me espantei com a forma imperativa do convite. Mas aceitei. Lembro-me que trabalhava numa empresa que ficava numa avenida conhecidíssima da cidade. Em frente a um canteiro de flores. Era maravilhoso quando a avenida ficava enfeitada pelas cores dos lírios brancos e alaranjados na época da primavera. E precisávamos de fotos para a edição de um livro. Não tínhamos técnicas e muito menos suporte orientador. Éramos leigos. Totalmente leigos. Precisávamos de fotos e o que tínhamos era uma maquininha fotográfica e uma velha filmadora nas mãos. De conhecimento...nadinha!
Lá fui estou eu fotografando os matinhos!
Eu morri de vergonha de ficar agachado ali, andando quase que de cócoras e filmando o que me era mandado. Muito vermelho, embaixo de um sol a pino, cheguei a dizer isso, o que causou muito riso! Rimos muito! Como rimos!
De longe quem nos avistava olhando para o chão no canteiro, com certeza se perguntava: “O que aqueles dois estão fotografando? Formigas!?” E foi esse o tipo de pergunta que nos dirigiram. Os dois ali: uma senhora com o triplo da minha idade e eu...
Ninguém esperava que as formigas, os matinhos, as florzinhas selvagens, fariam a diferença na edição daquele livro.
Era um matinho mais bonito que o outro! E eu nunca tinha observado aquilo. Como são lindos! São belíssimos! Sabe aqueles que são arrancados pelo jardineiro da prefeitura? Então, eram justamente esses que fotografávamos. Recordo de um que fotografei e que do meio da grama saía com o seu caule e bem na ponta se exibia com uma flor branquinha, branquinha...linda demais! Numa elegância incrível! Ela queria dizer que existia... eu acredito.
E esse matinho deu origem ao título de um capítulo do livro que estávamos editando e que versava sobre sonhos. Tinha tudo a ver. Com certeza aquele matinho passou por muitos obstáculos para crescer, firmar-se e soltar aquela florzinha. É claro que houve perigos de ser exterminado por herbicidas, de ser pisado, arrancado com raiz e tudo...mas, venceu chuva, sol e sobressaiu-se, venceu, e ali estava. Existia!
Que exemplo não? Para todo o ser humano! E assim concluímos aquela edição e muitas outras que surgiram, fotografando matinhos, formigas, passarinhos, peixinhos... Bendito foi o convite, benditas foram as formigas e os matinhos...bendita a vergonha que passei achando que os outros ririam de nós...
Aprendi, inclusive a não me importar com o que os outros pensam da gente. Aprendi com essa pessoa também. Que, os outros sempre serão os outros. E que se quiserem pensar mal, pensarão sem motivo real diante de minha conduta íntegra e de boa vontade.
Ousar é bom. É muito bom. As formigas sempre farão a diferença na minha vida.


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